Sexta-feira, 25 de Julho de 2008

Infantilidades à parte...

Tenho andado espantada comigo. Há dias, deu-me para pegar numa colecção de livros velhotes que tinha cá por casa, de chamativo título "Alice", que contam a história de uns poucos anos da vida de uma miúda de doze anos que, apesar de tudo, acaba por ter os problemas, pensamentos, sensações e desastres que uma miúda de dezoito. Digo isto porque eu própria tenho acontecimentos, sonhos, desgraças e ilusões semelhantes ao que a autora resolveu incrustrar nos poucos e fictícios anos de vida da Alice.

 

 

Às tantas, dei por mim a abanar a cabeça por estar a ler livros de tal modo infantis (descobri, mais tarde, com um revirar de olhos, que na contracapa dizia "a partir de 13 anos"), mas eram de tal modo viciantes, que li tudo de uma vez - são tão finos que se lê um, com facilidade, em poucas horas - e só parei no quinto da colecção porque não tinha mais. Apesar de corar de cada vez que me obrigava a lembrar que são mesmo livros para crianças, não pude deixar de dar valentes gargalhadas com as piadas jeitosas e sarcasmos bem acomodados lá por dentro. Tal como não deixei de chorar desalmadamente - e com toda a razão - no final do quinto livro.

 

 

Chorei porque foi tão afiada a crítica, a lembrança, até, dos problemas de muitos jovens de hoje em dia, que nem me apercebi bem do que estava a acontecer, até compreender que, num livro até então totalmente infantil e doce, tínhamos chegado à parte em que era necessária uma intervenção mais forte para dar a entender que isto acontece mesmo!  

 

Uma das personagens - uma rapariga carente, gordinha, triste, maltratada pela mãe e com a horrível culpa, no peito, de ter nascido como filha indesejada - resolveu pôr termo à vida, nas palavras da autora, sendo «colhida por um comboio» (detestei a expressão, mas nessa altura já eu estava num pranto infindável), por preferir a morte a uma vida que, afinal, nem vida era.

E agora pergunto eu... quantas crianças haverá por aí que escolhem, talvez diariamente, entre a vida e a morte tão levianamente como se decidissem entre café ou chocolate? E a verdade é que, no meio da falta de vida, amor e tudo o que necessitam, acaba por fazer sentido a existência do ter de escolher. E o que assusta, o que me choca e enfurece, é que não é delas, das pobres crianças, a culpa do terem de escolher. É de quem lhes inferniza a vida... é de quem lhes põe, no prato da balança que pende para o término da vida, todas as razões e mais algumas para não existirem. 

 

Pergunto-me o que pode uma pessoa como eu fazer contra algo assim. Provavelmente há muitos que dirão "cuida bem dos teus filhos para nunca terem de sofrer essa escolha ou a pior resolução dela" mas... e todos os outros piquenos que não têm quem os guie? Sinto-me triste, furiosa, enojada com o mundo em que vivemos... e mais irritada ainda com o pouco que posso fazer para melhorar situações como esta. 

sinto-me: triste e furiosa

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